O Fim da Era Qualis: Novos Rumos na Avaliação da Produção Científica no Brasil

Você sabia que o Qualis, sistema usado há mais de 20 anos para avaliar a produção científica brasileira, será descontinuado? A partir de 2025, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) implementará um novo modelo de avaliação da produção científica, alinhado às tendências globais. Vamos entender o que muda e como isso pode transformar o cenário da ciência no Brasil!

Por décadas, o sistema Qualis da CAPES foi um marco na avaliação da produção científica brasileira. Com sua estrutura de classificação de periódicos em estratos como A1, A2, B1 e outros, ele organizou e impulsionou o reconhecimento de programas de pós-graduação. Entretanto, ao longo do tempo, seu modelo tornou-se alvo de críticas, especialmente por priorizar a reputação dos periódicos em detrimento do impacto e da qualidade individual dos trabalhos. Pesquisadores de áreas emergentes e interdisciplinares, muitas vezes, enfrentavam barreiras para ter suas contribuições reconhecidas, mesmo quando inovadoras.

O anúncio de que o Qualis será descontinuado marca o fim de uma era. Esta iniciativa a CAPES reflete um alinhamento a tendências globais, priorizando a relevância e o impacto das pesquisas de forma direta e justa.

Esse novo modelo permite olhar para além das classificações e buscar métricas mais modernas e amplas, como as contribuições reais de cada pesquisa para o avanço do conhecimento, sua disseminação e até as colaborações internacionais envolvidas.

A transformação abre caminho para uma avaliação mais individualizada e moderna da produção científica, combinando três abordagens principais:

  1. Considerar os indicadores dos periódicos, como a qualidade e o desempenho da revista, mas com um diferencial importante: o foco se desloca para o artigo publicado em si, valorizando suas características individuais.
  2. Priorizar a abordagem dos indicadores específicos do artigo, como o número de citações, a indexação em bases como Scopus ou Web of Science e o acesso aberto ganham protagonismo, permitindo uma análise quantitativa e qualitativa mais precisa.
  3. Realizar a análise qualitativa será responsabilidade de cada área de avaliação, considerando aspectos como a relevância do tema abordado, o avanço conceitual proporcionado pela pesquisa e a contribuição científica do estudo.

Com essa combinação, o sistema de avaliação torna-se mais equilibrado e alinhado às demandas contemporâneas. A nova metodologia prioriza o mérito das pesquisas, fortalece a qualidade da ciência brasileira e promove uma avaliação mais transparente e equitativa, em sintonia com as tendências globais.

Mais do Que Publicar

É aqui que a cientometria ganha espaço. Essa área, que estuda o impacto da ciência por meio de métricas como número de citações, índice H e fator de impacto, será peça-chave no novo modelo de avaliação. Agora, não será mais apenas “onde você publicou”, mas o que a sua pesquisa gerou de impacto e transformação no mundo acadêmico, e até fora dele!

A boa notícia é que, com a expansão do acesso aberto e das plataformas digitais, o impacto das publicações não precisa mais ficar restrito às páginas de uma revista científica. As redes sociais, os blogs acadêmicos e até os podcasts podem se tornar vitrines poderosas para dar visibilidade às pesquisas. Já pensou que suas ideias podem influenciar outras pessoas muito além do ambiente universitário?

Essa mudança traz novas perspectivas para muitos pesquisadores: a liberdade de publicar em periódicos de sua escolha, por outro lado, também traz desafios, universidades e programas de pós-graduação precisarão repensar como avaliam e financiam suas produções científicas. Será necessário criar uma cultura que valorize a qualidade, a inovação e a relevância de cada trabalho.

Ademais, será fundamental garantir que essa transição seja feita com cautela, transparência e diálogo.

Do Fim do Qualis ao Futuro

Apesar das incertezas, o fim do Qualis marca o início de uma nova era para a ciência brasileira. É uma oportunidade de repensar a modernidade da avaliação das publicações científicas, valorizar o impacto real da pesquisa e democratizar ainda mais o acesso ao conhecimento. E, convenhamos, não é isso que todo pesquisador busca? Ver suas ideias reconhecidas, disseminadas e aplicadas onde realmente fazem a diferença?

Pesquisadores precisarão adotar estratégias que vão além de “publicar bem”, focando também na disseminação, aplicação e impacto de seus trabalhos. Instituições e programas de pós-graduação terão que reformular suas políticas de avaliação interna, investindo em ferramentas e práticas que atendam às novas demandas.

Do Qualis às Novas Perspectivas de Avaliação

Sergio Caldas (2024)

Essa transição oferece uma oportunidade única de modernizar o sistema acadêmico brasileiro, aproximando-o das melhores práticas regionais e globais. A nova abordagem permitirá maior liberdade editorial e destacará a qualidade e a inovação, ao mesmo tempo em que reforça a relevância social e científica das pesquisas.

A comunidade científica tem agora a oportunidade de se reinventar, consolidando seu papel como agentes transformadores da sociedade e contribuindo de maneira ainda mais significativa para o avanço do conhecimento. O futuro da ciência no Brasil está em nossas mãos e é, sem dúvida, promissor.


Autor: Prof. Me. Sergio Caldas — Coordenador do Sistema de Bibliotecas e Informação (SBI) | PUC-Campinas

Fonte: LinkedIn PUC Campinas

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