A história de nossa Universidade está profundamente vinculada aos Irmãos Maristas. Atuamos nela desde sua fundação, em 1959, e a conduzimos, como um serviço ao Reino de Deus, desde 1973. Tal fato nos leva a concluir que o jeito de educar da PUCPR é marcado pelo carisma e pela espiritualidade legados por São Marcelino Champagnat, cuja memória hoje celebramos.
Dias atrás chegou-me a notícia de que a Casa-Mãe do Instituto Marista (carinhosamente chamada de Notre Dame de L’Hermitage), tinha sido presenteada com um ícone (que é a imagem que está contida nesta mensagem); tal presente é parte das comemorações do bicentenário de construção deste lugar que pode ser chamado de “imenso relicário do Padre Champagnat”. O ícone é obra de Mamais Nektarios, um professor de nossa escola marista em Atenas, Grécia. Quando contemplei esta obra, automaticamente fui contemplado por ela.
No cristianismo, o ícone não é apenas uma pintura, mas é uma espécie de “escola do olhar”. Contemplar um ícone é perceber – nos tons, posturas e símbolos – uma abertura ao transcendente. O ícone une os elementos que, em uma primeira leitura, parecem estar distintos e separados: o visível e o invisível; o tempo e o Eterno; o humano e Deus. Em termos muito simples, o ícone é uma “presença”; e eis seu milagre: faz surgir uma pessoa. Foi olhando e sendo olhado por Champagnat que decidi partilhar contigo algumas reflexões sobre esta obra tão bela. Um ícone não se contempla com os olhos, mas com a alma. Mais que uma obra de arte, ele é um espelho do eterno, uma narrativa sagrada que entrelaça nossas raízes com o céu. Nesta festa tão importante, recebam, como mensagem e motivação, o que este ícone levou-me a pensar e a rezar:

O Rosto que Convida ao Infinito
Os olhos de Champagnat não se fixam em nós, mas no horizonte sem fim. Como todo ícone, esta imagem une o humano e o Divino — um lembrete de que educar é desvendar o invisível no visível. Seu olhar sereno nos desafia a sermos “Gente Boa” e a perceber em cada sala de aula e em cada canto de nossa Universidade, em cada gesto de acolhida, um ato de fé.
L’Hermitage: Pedras que Guardam Sonhos
A casa de L’Hermitage, nas mãos de Champagnat, ergue-se não como monumento, mas como promessa; ela simboliza nossa identidade: uma família que cresce sem fronteiras. Assim como suas paredes abrigaram os primeiros maristas, a PUCPR é um lar onde se constroem pontes — entre gerações, saberes e esperanças. Champagnat, o construtor, nos sussurra: “Para bem educar é preciso, primeiramente, amar”.
As Três Violetas: Fragilidade que Transforma
No canto inferior, um ramo de violetas — pequenas, mas radicais. Três flores que, talvez, indiquem a fé, a fraternidade e a missão. Elas representam a espiritualidade marista: simples como a humilde flor, mas capaz de romper o asfalto da indiferença. Champagnat não nos deixou tratados teológicos, mas um legado vivo: educar é fazer brotar vida, é acreditar que cada estudante é uma semente dessa terra sagrada.
O Altar onde o Ícone Repousa
Atualmente, esta obra habita L’Hermitage, junto ao relicário de Marcelino, na capela onde peregrinos e moradores se ajoelham diante de Notre-Dame. Esse lugar nos ensina que a educação é, em essência, um ato de veneração. Quando reconhecemos a dignidade infinita em cada jovem, convertemos a sala de aula em altar e o conhecimento em prece.
Querida comunidade PUCPR, este ícone não é apenas uma imagem a ser admirada. Ele é um convite a escrevermos, juntos o nosso ícone:
• com as cores da inclusão, onde nenhum rosto fica nas sombras;
• com o ouro da esperança, que brilha mesmo nas noites mais densas;
• com o bordô, a cor da PUCPR, a cor da paixão, que nos faz levantar pedras para edificar futuros.
Que nosso cotidiano seja uma iconografia viva, onde o eterno se revela nas pequenas coisas: no caderno aberto, no diálogo que aproxima, no silêncio que escuta. Que São Marcelino interceda por cada um de nós.
Fraternalmente,
Irmão Rogério Renato Mateucci,
Reitor PUCPR
Fonte: https://www.pucpr.br/reitoria/mensagem-em-celebracao-ao-dia-de-sao-marcelino-champagnat/