Por Gabriel Ramos
Nos últimos meses, tenho conversado com muitos empresários e profissionais de RH sobre um tema que sempre existiu, mas que agora está gritando dentro das empresas: as finanças pessoais dos colaboradores.
Uma pesquisa recente da Creditas Benefícios, feita em parceria com a Opinion Box, revelou algo que deveria nos fazer parar por um momento: 71% dos brasileiros afirmam que trabalham melhor quando estão com as contas em dia. E mais: 64% dizem que, quando estão endividados, não conseguem cumprir nem as demandas básicas da rotina como chegar no horário.
Esses dados não me surpreendem. Na verdade, confirmam o que venho observando na prática dentro das empresas. O estresse financeiro está presente em cada venda que não acontece, em cada pedido de demissão inesperado, em cada falta sem justificativa, em cada colaborador que parece ter “perdido o brilho”.
E o mais preocupante: o Brasil tem hoje mais de 72 milhões de inadimplentes. Isso significa que, em média, metade da força de trabalho de uma empresa pode estar carregando boletos vencidos, dívidas impagáveis e preocupações que não cabem no contracheque. A dívida média hoje é de mais de R$ 5 mil quase 4 salários mínimos.
A pergunta que faço aos gestores é simples: até quando vamos fingir que isso não afeta o desempenho das empresas?
Produtividade não é só técnica, é emocional.
Você pode oferecer treinamentos, metas, bônus, coaching, ferramentas… Mas se o colaborador chega para o trabalho depois de passar a noite acordado, preocupado com dívidas, nada disso vai surtir o efeito esperado.
A pesquisa mostra que 66% dos profissionais sentem impacto direto das finanças na saúde mental. Estresse, ansiedade, insônia. Não são dados apenas, são sintomas reais de pessoas que estão tentando produzir enquanto carregam o peso do descontrole financeiro.
E aqui vai um dado ainda mais relevante: 92% dos profissionais acreditam que a educação financeira deveria ser oferecida pelas empresas. Sabe quantos têm acesso a isso hoje? Apenas 30%.
A conta é simples: a maioria quer, a maioria precisa, mas quase ninguém tem. E as empresas que perceberem isso primeiro vão sair na frente.
A ideia de que “cada um cuida do seu dinheiro” está custando caro.
Muitos ainda têm receio de abordar esse tema dentro do ambiente corporativo. Acham que finanças são “questão pessoal”. Mas e quando esse problema pessoal começa a comprometer o clima da equipe, a qualidade das entregas e até o lucro da operação?
Eu já mostrei isso em outros artigos e estudos:
- 43% dos trabalhadores perdem até 3 horas do expediente por dia preocupados com dívidas;
- Isso equivale, numa empresa com 100 colaboradores, a pagar 16 salários por mês sem produtividade real;
- O custo anual da improdutividade pode passar de R$ 580 mil;
- A rotatividade causada por estresse financeiro pode gerar mais de R$ 1 milhão em custos por ano.
Esses números não estão no relatório de despesas da empresa, mas eles existem e corroem os resultados silenciosamente.
O RH agora é chamado a jogar diferente.
Essa mesma pesquisa aponta que 75% dos colaboradores enxergam o RH como o responsável pela oferta de educação financeira na empresa. Isso é um sinal claro de que o papel do RH está evoluindo. Já não se trata apenas de folha, benefícios e gestão de conflitos. Hoje, o RH também cuida de saúde emocional, educação e segurança financeira.
E há uma mudança positiva no ar: as empresas estão começando a procurar ajuda. Como relatou o especialista Guilherme Casagrande na matéria, há três anos era difícil convencer um RH a separar 1 hora por mês para falar sobre finanças com os colaboradores. Hoje, os próprios RHs estão indo atrás de quem pode oferecer soluções.
Por quê? Porque eles estão vendo o efeito nas fábricas, nos escritórios, nos times de vendas — e até nos grupos de WhatsApp da empresa.
Não é raro ouvir conversas sobre “o jogo do tigrinho”, apostas, dívidas do cartão, parcelas em atraso, pedidos de empréstimo. Isso virou rotina. E ignorar essa realidade é deixar a empresa vulnerável.
Educação Financeira é um investimento que retorna em produtividade e lucro
O que está em jogo aqui não é apenas o bem-estar do colaborador, mas sim o desempenho da empresa como um todo.
Quando um funcionário está afogado em dívidas, ele produz menos, erra mais, falta mais, se desmotiva e muitas vezes sai da empresa. E isso tem um custo real, mensurável, que vai muito além do salário.
- Empresas com programas de educação financeira relatam até 9% de aumento na produtividade;
- 37% de crescimento nas vendas em equipes com menos estresse financeiro;
- Redução de até 25% na rotatividade, o que representa economia de centenas de milhares de reais por ano.
Ou seja, não se trata de “ajudar o colaborador” apenas — trata-se de proteger o seu resultado.
Empresas que se preocupam com as finanças pessoais de seus colaboradores colhem os frutos em forma de engajamento, estabilidade e performance.
Quem cuida do financeiro cuida da saúde, da produtividade e da empresa.
A era do “cada um por si” está ficando para trás. O colaborador de hoje precisa — e quer — ajuda para lidar com o dinheiro. E as empresas que entenderem isso antes das outras vão sair na frente: vão reter talentos, melhorar resultados e fortalecer sua cultura interna.
Não é sobre ensinar a fazer planilha. É sobre libertar as pessoas da angústia e da vergonha de não saber lidar com o próprio salário.
Quem cuida da vida financeira do time, cuida da saúde da empresa.
E você, vai esperar mais quanto para agir?
Gabriel Ramos de Padua