Da Teoria à Prática: Como Viver o Lifelong Learning e o Life Long Learning no Seu Cotidiano

Autoras: Mônica Paiva e Maria Alice Capocchi Ribeiro

Introdução

Imagine acordar todas as manhãs com a consciência de que cada dia oferece oportunidades únicas de crescimento, não apenas profissionais, mas também como ser humano. Esta é a essência de abraçar tanto o conceito tradicional de Lifelong Learning quanto a abordagem mais abrangente do Life Long Learning proposta por Wanderlei Passarella, fundador do CELINT (Centro de Estudos em Liderança e Governança Integrais). A diferença entre esses dois conceitos pode parecer sutil à primeira vista, mas suas implicações práticas para como vivemos e trabalhamos são profundas e transformadoras.

O Lifelong Learning tradicional, que se refere à prática de buscar conhecimento e desenvolvimento de habilidades ao longo da vida, tornou-se quase uma necessidade de sobrevivência no mundo moderno. Como destaca Conrado Schlochauer em seu livro sobre aprendizes de toda a vida, precisamos retomar o controle de nosso processo de aprendizagem para navegar nas mudanças constantes de nossa época. Já a visão de Life Long Learning defendida por Wanderlei Passarella vai além e propõe adicionalmente considerar três dimensões fundamentais desse processo: a vida, as pessoas ao nosso redor e nós mesmos. Este não é apenas um conceito acadêmico, mas um modo de viver que pode transformar profundamente sua experiência diária, todos que estão a sua volta e sua vida. Ou seja, constitui um longo processo de aprendizagem sobre a vida.


Mas como você pode começar a viver isso hoje mesmo?

A palavra-chave é atitude. Lifelong learning é basicamente uma atitude perante a vida que traduz nossa responsabilidade por quem queremos ser e como queremos que nossa vida seja. A primeira dica prática é criar momentos de micro aprendizagem. Em vez de esperar por um curso formal ou workshop, transforme situações cotidianas em oportunidades de crescimento. Quando você enfrenta um problema no trabalho, por exemplo, pause por um momento e pergunte-se: “O que esta situação está me ensinando sobre resolução de problemas?” Ou quando interage com um colega difícil, reflita: “Que habilidade de comunicação posso desenvolver aqui?” Essa prática transforma experiências rotineiras em pensamento crítico, reflexão e laboratórios de aprendizagem.

A base teórica deste conceito encontra sustentação na regra 70-20-10, desenvolvida pelos professores Morgan McCall, Robert Eichinger e Michael Lombardo do Center for Creative Leadership, que demonstra como 70% do nosso aprendizado vem de experiências práticas, 20% de interações sociais e apenas 10% da educação formal


O conceito.

A mesma atitude se aplica para vivenciar o Life Long Learning, a aprendizagem sobre a vida. Comece cada semana fazendo-se uma pergunta simples: “O que a vida está tentando me ensinar agora?” Talvez você esteja passando por uma transição profissional, enfrentando desafios familiares ou simplesmente se sentindo estagnado. Ao invés de ver essas situações como obstáculos, enxergue-as como mentorias onde você se torna seu próprio mentor. Mantenha um diário reflexivo e ao final de cada dia, anote uma lição que a vida te ofereceu. Pode ser algo sobre paciência quando você fica preso no trânsito, sobre gratidão quando aprecia um pôr do sol, ou sobre resiliência quando supera uma dificuldade.

Uma estratégia eficaz que combina ambas as atitudes é criar um Círculo de Aprendizagem. No ambiente de trabalho, esta iniciativa é mais bem aproveitada quando estabelece um objetivo relevante e uma estrutura às atividades de aprendizagem para que a equipe possa usar o conhecimento gerado colaborativamente e melhorar seu desempenho. Um pequeno grupo de colegas comprometidos com o crescimento mútuo e que se encontrem regularmente pode ir além de discutir conhecimentos técnicos, mas também insights sobre vida, relacionamentos e autoconhecimento. Estes Círculos também criam um ambiente seguro para vulnerabilidade e podem ser implantados com amigos.

Outra iniciativa é praticar o Feedback Integral. No trabalho, quando você der ou receber feedback, vá além das competências técnicas e inclua observações sobre habilidades relacionais, crescimento pessoal e impacto nas pessoas ao redor. Por exemplo, em vez de dizer apenas “suas habilidades de apresentação não estão adequadas”, acrescente “melhorá-las te ajudará a compartilhar suas ideias valiosas de forma mais impactante, conectando melhor com sua audiência.” Isso vale para relacionamentos pessoais quando houver qualquer conflito ou mal-entendido.


Lifelong Learning, Life Long Learning e Desenvolvimento Relacional

Aprender sobre as pessoas requer uma mudança fundamental na forma como você interage com os outros. Substitua o mero conversar pela ’escuta curiosa’. Quando alguém compartilha uma opinião diferente da sua, resista a formular uma resposta ou julgamento e faça perguntas genuínas: “Como você chegou a essa conclusão?” ou “O que em sua experiência levou você a pensar assim?” Esta prática não apenas melhora seus relacionamentos, mas expande continuamente sua compreensão sobre a natureza humana.

Uma dica poderosa para o desenvolvimento relacional é adotar a ’regra das três perspectivas’. Sempre que você se encontrar em um conflito ou mal-entendido com alguém, force-se a considerar três perspectivas diferentes: a sua, a da outra pessoa e a de um observador neutro. Este exercício desenvolve empatia e inteligência emocional de forma prática e imediata.

A aprendizagem sobre si mesmo talvez seja o aspecto mais desafiador do desenvolvimento relacional, pois requer honestidade brutal e vulnerabilidade. Comece criando momentos diários de autorreflexão, nem que sejam apenas cinco minutos antes de dormir. Pergunte-se: “Como me comportei hoje?” “Quais emoções dominaram meu dia?” Para integrar ambos os conceitos na prática, sugiro o desenvolvimento da ‘competência integral’. Sempre que você desenvolver uma nova habilidade técnica, pergunte-se como ela pode contribuir para seu crescimento. Se está aprendendo uma nova ferramenta de gestão de projetos, por exemplo, reflita sobre como ela pode melhorar sua capacidade de colaboração e liderança. Se está estudando uma nova linguagem de programação, considere como o processo de aprendizado está desenvolvendo sua paciência e resiliência diante de desafios.

Para tornar esse processo sustentável, estabeleça rituais de aprendizagem. Reserve tempo semanal para reflexão, leitura e planejamento de seu desenvolvimento integral. Pode ser domingo à noite, quando você revisa a semana que passou e planeja a próxima, ou uma manhã de sábado dedicada a leitura e autorreflexão. O importante é criar consistência.

Uma dica fundamental é abraçar a ’mentalidade de aprendiz’ em todas as áreas da vida. Mesmo em assuntos onde você é especialista, mantenha-se aberto para novas perspectivas e aprendizados. Esta postura de humildade intelectual e emocional é essencial tanto para o Lifelong Learning técnico quanto para o Life long Learning humano.

Uma ferramenta prática para o autoconhecimento é o Mapeamento de Padrões Pessoais. Ao longo de um mês, anote situações que geram em você reações emocionais intensas, sejam elas positivas ou negativas. Depois, procure padrões: que tipo de situações você evita? Que comportamentos se repetem? Que gatilhos emocionais são recorrentes? O que essas reações te dizem sobre teus valores e medos? Esta prática de autoanálise regular é fundamental para o autoconhecimento genuíno. Este mapeamento revela aspectos de sua personalidade que muitas vezes passam despercebidos.

A jornada

Lembre-se de que este processo não é linear nem rápido. Haverá momentos em que você se sentirá estagnado, frustrado e períodos de aparente retrocesso. Isso é normal e faz parte do crescimento. O importante é manter a consistência e a gentileza consigo mesmo. Como Wanderlei Passarella enfatiza em sua abordagem integral, o desenvolvimento humano genuíno requer paciência, compaixão e compromisso de longo prazo.

A verdadeira transformação acontece quando você para de ver a aprendizagem como algo que você faz e começa a vê-lo como algo que você é. Quando você se torna um aprendiz integral da vida, cada experiência, cada pessoa que encontra e cada momento de autorreflexão contribui para seu crescimento contínuo. Esta é a diferença entre simplesmente adquirir conhecimentos e habilidades ao longo da vida e verdadeiramente evoluir como ser humano.

Ao integrar essas práticas em seu cotidiano, você descobrirá que o desenvolvimento de competências técnicas e o crescimento pessoal não são processos separados, mas aspectos interconectados de uma jornada maior de realização humana. E é nesta integração que reside o verdadeiro poder transformador da aprendizagem ao longo da vida.


Referências bibliográficas

SCHLOCHAUER, Conrado. Lifelong learners – o poder do aprendizado contínuo. EDITORA Bookwire Brasil, 2021.
PASSARELA, Wanderlei. Conselheiro de Empresas: o que Você Precisa Saber Para uma Carreira Promissora. Editora Alta Books, 2022.
PASSARELA, Wanderlei. A Reinvenção da Empresa – Projeto Ômega. Editora Évora, 2017.
PASSARELA, Wanderlei. O Despertar dos Líderes Integrais.Editora QualyMark, 2013.

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