Agentes de IA, Deskilling e o Futuro do Trabalho: Reflexões do Evento PUC angels

No recente evento da PUC angels, um debate rico e multifacetado explorou como agentes de inteligência artificial estão catalisando uma profunda transformação no mercado de trabalho. Os palestrantes Renato Azevedo Sant Anna e Jessé Freitas, com perspectivas complementares, desmistificaram o fenômeno do deskilling, não como um mal a ser combatido, mas como uma dinâmica complexa que redefine competências, exige adaptação e abre novos horizontes para profissionais e organizações.

Deskilling: Redefinindo a Competição e o Valor

Renato Sant Anna iniciou explicando o deskilling como um processo onde a tecnologia reduz a barreira de entrada para funções que antes exigiam alta especialização. Ele ilustrou:

“O conhecimento específico para exercer uma atividade diminui, a tecnologia diminui a barreira de entrada […] um programador júnior vai poder exercer o mesmo trabalho que um programador sênior exercia. E com isso você vai […] provocar uma queda no salário daqueles profissionais”.

Essa dinâmica, segundo Renato, ecoa o Paradoxo de Jevons: a eficiência gerada pela automação não elimina o trabalho, mas aumenta a demanda por novas habilidades e formas de agregar valor. Ele acrescentou que profissionais seniores enfrentam um dilema:

“Ou você vai ter que diminuir seu preço ou você vai ter que basicamente utilizar também essa mesma tecnologia para poder criar […] ganhar em produtividade”.

A Realidade Prática dos Agentes de IA: Visão de Jessé

Jessé Vieira Freitas trouxe uma visão pragmática, ancorada na experiência de implementação:

“A gente já tem […] agentes de Inteligência Artificial operando na indústria, operando no comércio, no serviço, fazendo análise de indicadores […] as pessoas precisaram em determinado momento ou migrar para outra área […] ou se aperfeiçoar”.

Ele desmistificou o temor de demissões em massa, observando uma tendência de realocação:

“Nas empresas que eu atendo, eu não vi nenhuma demitir pessoas. Vi realocar, melhorar atendimento, fazer melhoria de processo […] deixar a etapa mais ativa”.

Jessé também alertou contra promessas exageradas do mercado:

“Tem hoje uma venda que acaba sendo muito mentirosa. Promete-se formar pessoas para […] agentes […] que vão vender 15 mil. Cara, não vai acontecer isso, parceiro […] para tu poder chegar nesse nível de maturidade […] tu tem que ter chão”.

Upskilling e Reskilling: A Resposta Estratégica

A necessidade de adaptação foi um consenso. Ambos os palestrantes destacaram:

  • Upskilling: Aprimorar habilidades para colaborar com IA. Renato enfatizou a importância do pensamento computacional e sistêmico: “O profissional do futuro precisará entender como operar dentro de sistemas complexos, colaborando com máquinas e redesenhando processos para criar valor”.
  • Reskilling: Requalificar profissionais para novas funções. Jessé reforçou que o foco deve ser na melhoria de processos e na capacitação para um ambiente híbrido.

IA Vertical, Agentes Especializados e Suas “Personalidades”

Renato introduziu o conceito de IA Vertical, focada em nichos, exemplificando com processos de compliance onde agentes substituem consultorias caras. Ele ponderou que: “Agora eles [consultores] vão ter que entregar valor real”, ressaltando que o valor entregue terá de ser mensurável e tangível.

Jessé detalhou a especialização das LLMs (Large Language Models):

“O Claude […] ele é mais técnico […] não é tão generativo […] O Gemini performa muito bem com código. O chat GPT já não […] tão apurado ainda para […] programação”.

Essa especialização significa que a escolha da ferramenta é crucial e que diferentes agentes exigem diferentes formas de interação, quase como lidar com “personalidades” distintas.

Agentes em Ação: Aplicações e Novas Oportunidades para Freelancers

Os agentes já estão presentes em:

  • Atendimento ao cliente: Automatizando respostas, mas com humanos para casos complexos ou clientes que preferem interação humana (como médicos ou idosos com dificuldades de digitação, citados por Jessé).
  • Gestão e Análise: Otimizando processos internos, como no exemplo de Jessé onde agentes leem balanços e entregam análises diretamente.
  • Infoprodutos: Automatizando vendas e suporte, como no exemplo sobre atendimento ao consumidor no contexto de lançamento de produto digital trazido por Jessé.

Sobre os freelancers, Renato observou que o deskilling afetou plataformas como Fiverr, exigindo que profissionais ofereçam mais do que tarefas básicas automatizáveis. Jessé, por outro lado, apontou como freelancers podem usar agentes para aumentar sua própria produtividade:

“Imagina como é que fica o serviço disso [freelancer cobrindo férias com apoio de IA]? Treinamento, base de conhecimento, todo acesso a toda a base de sistema”.

Renato concordou que a evolução é necessária:

“Quem só oferecia transcrição ou redação precisa agora combinar esses serviços com análise ou curadoria estratégica, utilizando IA como aliada”.

Os Desafios da Implementação: Além do Hype

Implementar agentes de IA não é trivial. Jessé detalhou as complexidades:

“Quando chega na parte de ‘vamos fazer o teu prompt’, surgem as perguntas: Como ele vai atender? Qual é a base de conhecimento? Quais são os teus serviços? […] E o mais importante: o que ele não pode fazer?”.

Ele compartilhou um exemplo real onde um agente não configurado corretamente ofereceu descontos excessivos, ilustrando a necessidade crítica de definir limites. Renato adicionou que implementações malfeitas podem prejudicar a experiência do cliente:

“Às vezes vejo implementações […] onde se tenta economizar em seres humanos de um jeito que se torna tão chato para o consumidor que ele desiste […] afeta marca […] e ele vai concorrente”.

Jessé também ressaltou que soluções robustas geralmente exigem mais do que low-code/no-code:

“Para fazer uma entrega […] com processamento de dados […] vai envolver banco de dados, vai envolver Python, vai envolver código […] Os melhores agentes […] passam por programação”.

Políticas Públicas e a Realidade da Adaptação

A conversa tocou na necessidade de políticas públicas, como o Plano Brasileiro de IA, para apoiar a transição. Renato sugeriu mapear nichos afetados e criar programas de requalificação direcionados.

Jessé trouxe uma visão realista, mas também humana, sobre a adaptação:

“Por pior que possa parecer […] a gente vai tentar, mas tem gente que vai ficar. É assim com a educação hoje, foi assim […] no passado”.

Ele também citou o exemplo do restaurante chinês que usa robôs operados por pessoas neurodiversas, mostrando como a tecnologia pode, paradoxalmente, criar formas de inclusão

Conclusões: Navegando a Era dos Agentes

O evento da PUC angels sublinhou que a era dos agentes de IA exige uma abordagem estratégica e humana. Renato enfatizou a necessidade de se ter a tecnologia como uma aliada do ser humano, de modo a elevar as entregas na cadeia de valor, unindo criação em rede e pensamento sistêmico para navegar a complexidade em organizações que operam como um sistema complexo. Jessé recomendou pragmatismo:

“Adota uma ferramenta que a maioria das empresas que tu operas já usa […] Não adianta fugir da estrutura […] Eu brinco muito: ‘Ah, eu quero ter um Saci para chamar de meu’. Beleza, mas tu não é o pai da criança […] ele é rebelde […] ele tá o dia inteiro dando problema, mas ele é teu filho”.

O deskilling não é o fim das habilidades, mas uma transformação. A capacidade de aprender, desaprender e reaprender, como diria Toffler, torna-se a competência mestra. A colaboração entre indivíduos, empresas e governos será essencial para garantir que essa revolução tecnológica amplifique o potencial humano.


Referências

*1 Evento PUC angels. (2025, Abril 10). A transformação do trabalho com agentes de IA [Transcrição do evento].

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Renato Azevedo Sant Anna – Especialista em Inovação Digital e Insights

Membro do grupo de trabalho sobre Educação e Life Long Learning – Comitê de IA da PUC angels

“A minha missão é ajudar empresas a não apenas se adaptarem, mas a prosperarem em um mundo digital em constante mudança.”

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