Coisas de mãe e filho … Coisas de amor.

por Yvie Nunes


Hoje, tive uma cena simples com meu filho… mas que me atravessou profundamente.

Ele tem 15 anos, é autista, e eu precisava acessar algo no celular dele. Pedi:
— “Filho, me dá o seu PIN.”
Ele respondeu na hora:
— “Por quê? Pra quê você quer o meu PIN?”
Eu disse, com a firmeza de quem cuida:
— “Porque você é menor de idade, mora comigo, e eu preciso saber o que está acontecendo.”

Ele resistiu, cheio de charme adolescente, puxando o discurso da privacidade.
Eu insisti:
— “Me dá o PIN. Me dá… ou vai me dar.” (Sim, já levemente impaciente…)

Foi então que ele falou:
— “Tá na tela.”

Eu olhei… e lá estava. Os quatro números. Escancarados, bem diante dos meus olhos.

E aí veio o silêncio.
E junto com ele, a reflexão — dessas que a clínica me ensinou a não ignorar.

✨ Quantas vezes a gente deixa de ver porque está ocupado demais querendo ouvir o que quer?
✨ Quantas vezes a gente espera que o outro diga… quando na verdade já mostrou?
✨ E por que o óbvio precisa ser dito para ser reconhecido?

Como psicanalista, falo muito sobre isso com meus pacientes:
O óbvio também precisa ser dito.
Porque o que é evidente para um, pode ser invisível para o outro.
E porque o não-dito constrói abismos.

Naquele instante, eu entendi que estava buscando uma resposta pronta, ao invés de realmente olhar.
Estava reagindo, quando podia ter escutado — inclusive com os olhos.

Nos vínculos, principalmente com os filhos, a escuta precisa ir além da palavra.
Ela precisa acolher o gesto, o silêncio, a intenção por trás da forma.
Precisa sustentar o tempo da resposta, mesmo quando a gente quer controle.

A cena foi simples. Mas me lembrou que amar é também ver.
E que no cuidado, às vezes, o essencial está ali — na tela, no gesto, no olhar.
Só precisa que a gente pare e perceba.

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