Equidade – a busca das mulheres em relação aos homens no mercado de trabalho

*Adm. Ana Shirley França

O desenvolvimento da sociedade pós-moderna provocou grandes transformações em várias áreas das relações sociais. No âmbito do comportamento feminino perante a sociedade, na família e, especialmente, no mercado de trabalho.  Foram visíveis as mudanças no papel social que, até então, era atribuído à mulher. Novos formatos familiares surgiram e a imagem da mulher responsável somente pelas tarefas domésticas e do cuidado dos filhos deu lugar a lares liderados por mulheres, onde se tornaram protagonistas, também, por prover o sustento familiar, tornando-as participativas economicamente. Assim, buscar a equidade entre mulheres e homens no mercado de trabalho e ocupações é a ação necessária e urgente.

Nas últimas décadas, muitas mudanças ocorreram na sociedade e, consequentemente, no mercado de trabalho brasileiro, de maneira a possibilitar maior inserção feminina nas organizações; contudo, as desigualdades entre homens e mulheres ainda persistem. Algumas mudanças colaboraram para que as chances de trabalho para mulheres crescessem.

Primeiro, é preciso destacar o empreendimento, dedicação e formação feminina nos últimos anos. Também é importante apontar o processo de expansão econômica e de urbanização das cidades, a partir da década de 70, ampliando o mercado e a necessidade de mais trabalhadores. Ainda se deve considerar mudanças nas normas, convenções sociais e culturais, com transformações nas estruturas das famílias, além da visão das novas gerações e das exigências sociais por mais diversidade social, para combater a desigualdade e promover a inclusão social.

Apesar das transformações apontadas, a mulher vem lentamente ocupando postos de trabalho e faz valer o seu lugar de direito nas organizações em todos os setores da economia ou empreendendo para o sustento familiar. Contudo, os resultados das últimas pesquisas em 2024 revelam ainda baixa evolução.

A mulher e a formação superior

A participação da mulher superou a dos homens na formação superior. A mulher, apesar de dificuldades históricas, com determinação e dedicação galgou espaços ao longo do tempo, para chegar ao Século XXI, com várias conquistas em relação à formação profissional, por meio da educação superior.

Segundo o Censo do Ensino Superior, 2023, do Inep, confirma-se que as mulheres se tornaram maioria entre os estudantes matriculados nos cursos de graduação e licenciaturas. Com o passar dos anos, em 2024, a participação feminina é cada vez mais significativa. Cursos que antes eram vistos como de predomínio masculino, hoje se podem verificar as mulheres, em maioria, como estudantes. Fato que aponta melhorias futuras para as mulheres, em termos de formação e projeção de mais inclusão no mercado.

Renda e ocupação desiguais entre homens e mulheres

 A pesquisa do IBGE aponta, no primeiro trimestre de 2024, a disparidade entre mulheres e homens no mercado de trabalho, principalmente, em relação ao rendimento médio real, habitualmente recebido no trabalho principal.

A pesquisa parte da análise de homens e mulheres no mercado formal e afirma que, apesar de atingir R$ 3.033 pelos homens, no período, as mulheres trabalhadoras se mantêm com rendimentos equivalentes a 80% do salário médio masculino. Os números revelam a renda habitual obtida do trabalho principal e o rendimento médio que alcançaram patamares muito altos no referido período, tanto para os homens, R$ 3.323, quanto para as mulheres, R$ 2.639. Em síntese, o homem recebe cerca de 26% a mais que a mulher em seu emprego principal, mesmo que realizem as mesmas atividades de trabalho.

Em se tratando da ocupação de níveis hierárquicos por homens e mulheres, pesquisas revelam a disparidade entre gêneros, quando se trata de cargos e funções. A representação feminina é pouco significativa em cargos mais altos de gestão e de liderança. Os dados revelam que, quanto mais alto o cargo nas empresas, menor participação feminina ocorre, como revela a pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero nas Empresas, do Instituto Ethos, 2024, a seguir.

A desigualdade aumenta na análise dos dados entre mulheres negras e brancas

A nova pesquisa do IPEA (2024) revela que pouco mais da metade das mulheres estão no mercado de trabalho no Brasil, entendendo-se o mercado como ações de emprego formal, trabalho e ocupações laborais. São apenas 52% das mulheres negras e 54% das brancas. A diferença é grande em relação aos homens. Entre eles, esse índice é de cerca de 75%. Além disso, as mulheres são a maioria da população brasileira, e as negras, nesse grupo, são 28% entre elas.

Os números são do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), que lançou a nova versão da Plataforma Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, com dados atualizados de 2016 a 2022. A pesquisa aponta que os negros representam 80% dos 10% mais pobres do Brasil. Já entre os 10% mais ricos, os brancos somam 70%. Certamente, esses dados refletem as questões relacionadas ao trabalho e a ocupações.

Outro dado importante revelado pela pesquisa é a queda na proteção da Previdência Social. Em geral, caiu entre todos os grupos de gênero, mas entre as mulheres negras a situação é pior. Mais de um quinto delas (21%) não conseguem contribuir para a Previdência e ficam com menos acesso à rede de seguridade social.

As mulheres como minoria e menor inclusão nas organizações

 Idosos, mulheres, negros, estrangeiros, LGPTDA+, entre outros constituem um conjunto minoritário de cidadãos de menor representação em postos de trabalho. Como se pode constatar em estudos sobre o tema, a história revela a dominação de grupos sociais que são considerados o “padrão social”, tradicionalmente falando.

Quando esses grupos minoritários são identificados por mulheres, a representatividade no mercado de trabalho diminui ainda mais. O envelhecimento populacional é um fato já presente na realidade e tende a crescer rapidamente nos próximos anos no mundo e, em especial, no Brasil. Já se pode perceber atualmente, uma discreta tendência das empresas brasileiras na busca da diversidade como forma de agregar ao seu negócio, a experiência, a cultura e o conhecimento de tipos de pessoas diversas; inclusive pessoas 50+, uma realidade encontrada nas atividades laborais nas organizações.

Nessa luta inclusiva, ganham os cidadãos, anteriormente discriminados, e as organizações que passam a possuir no seu corpo de colaboradores pessoas com o pensar diferente, com cultura diferenciada e trazem conhecimentos oriundos de seus grupos sociais. Para as empresas, a inclusão é um ganho significativo, pois se passa a receber insumos de tipos de pessoa que refletem camadas sociais diferenciadas, e que podem ser aproveitados a favor do negócio.

Por fim

É inegável que as mulheres conquistaram muitos espaços, com muita luta e vencendo obstáculos; porém, ainda faltam passos a alcançar.

Na educação, muitas lutas resultaram em bons resultados para as mulheres. Além de oportunidades educacionais conquistadas, espera-se que a amplitude de formação se traduza em um futuro próxima em mais ocupações e trabalho.

Infelizmente, não se pode dizer o mesmo, no que se refere à ocupação de cargos nas organizações e no mercado de trabalho. Apesar de mais formada, a mulher ainda precisa mais determinação e luta, para alcançar equidade no  trabalho e se tornarem profissionais com as mesmas oportunidades dos homens.

As representações nas organizações de liderança e gestão ainda estão em crescimento, mas bem aquém do que realmente se deseja, como processo social de inclusão e diversidade, tendo em vista as pesquisas e os estudos sobre o tema.

A luta feminina continua, e os números e conquistas das mulheres devem ser um incentivo, para que continuem na busca de ocupar ainda mais os bancos universitários, bem como conquistar, por mérito, um lugar mais expressivo no mercado de trabalho e em funções de liderança, sejam nas organizações, em cargos representativos das profissões, na política, nas suas comunidades e como grande líder nas suas famílias.

*Conselheira Titular CRA-RJ. Coordenadora da Comissão do Trabalho e Empregabilidade CRA-RJ. Top Voice. Coordenadora do Curso de Administração Unyleya. Empreteca. Proprietária do Brechopin – Reuso. Avaliadora MEC/INEP. Autora. Conselheira PUC angels.

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