Investimento em IA cresce, mas preparo humano fica para trás — e isso tem tudo a ver com hype

Por Enio Klein

Quase todas as empresas no Brasil já investem em IA, mas a maioria dos líderes admite que suas equipes ainda não estão prontas para lidar com essa tecnologia no dia a dia. O resultado? Um descompasso perigoso: gasta-se com ferramentas de ponta, mas falta preparo humano, integração e propósito claro. . Segundo pesquisa publicada pelo Valor Econômico, 98% das organizações no país já investem em IA. O problema é que essa transformação tecnológica não tem sido acompanhada pelo preparo humano: 69% dos líderes afirmam que suas equipes não estão prontas para aplicar essas soluções de forma eficaz. Ou seja, investe-se alto em inovação, mas falta gente capacitada para extrair valor real dela.

Esse descompasso tem consequências diretas no desempenho das organizações. O entusiasmo com as promessas da IA muitas vezes vem acompanhado de decisões apressadas, baseadas mais em pressão do mercado ou modismos do que em planejamento sólido. Quando a implantação tecnológica avança sem considerar o contexto das pessoas, surgem resistências internas, medo da substituição de empregos, falhas operacionais e, principalmente, baixo retorno sobre o investimento.

A verdade é que, em muitos casos, as empresas estão apostando em tecnologia como se fosse solução mágica, quando, na prática, ela é apenas uma ferramenta – poderosa, sim, mas que exige preparação, adaptação e sentido. Não é a IA que transforma uma empresa; são as pessoas, apoiadas pela IA, que podem transformar processos, modelos de negócio e experiências.

Para separar o que é hype do que é uso estratégico, vale observar alguns sinais práticos. A tabela abaixo resume situações comuns que ilustram a diferença entre decisões movidas por pressão externa e aquelas que geram valor concreto:

IndicadorPode ser hype quando…É útil e prático quando…
Adoção de IA (generativa ou não)É feita só porque “todo mundo faz”Resolve problemas reais com eficiência
Substituição de pessoasServe apenas para cortar custosLibera tempo para tarefas estratégicas
Implantação aceleradaIgnora governança e capacitaçãoVem com planejamento e formação
Discurso corporativoÉ genérico e cheio de buzzwordsMostra resultados claros e medidos

Essas distinções são fundamentais. Projetos de IA sem um propósito definido, sem indicadores de sucesso e sem envolvimento da força de trabalho acabam virando “inovações vazias”. E pior: minam a confiança nas tecnologias e reforçam a ideia de que inovação é algo imposto — quando deveria ser algo construído em conjunto.

Para mudar esse cenário, é urgente que as empresas olhem para dentro. Não basta contratar plataformas avançadas ou dizer que estão na era da IA. É preciso integrar equipes, formar lideranças capazes de tomar decisões baseadas em dados, promover uma cultura digital madura e criar ambientes onde a IA seja compreendida como aliada, e não como ameaça.

No fim das contas, o que diferencia transformação de distração é justamente o preparo. E isso não se compra com orçamento – se constrói com propósito. IA não substitui inteligência humana; amplifica o que ela pode fazer, quando bem usada.

Estamos usando IA para transformar ou apenas nos distraindo com promessas vendidas pela indústria?

COMPARTILHE:

POSTS

Mais recentes