Mesa-redonda sobre a história da arquitetura brasileira encerra o Conarc 2025

A arquitetura brasileira foi o tema de encerramento das atividades do Congresso Internacional pela Arquitetura Contemporânea (Conarc), sediado na PUC Minas. A mesa-redonda História e estórias da arquitetura brasileira do século XX foi realizada na noite do dia 28 de maio, quarta-feira, no Teatro São João Paulo II, Campus Coração Eucarístico.

O diretor de Infraestrutura da Sociedade Mineira de Cultura (SMC) e pró-reitor de Logística e Infraestrutura da PUC Minas, Prof. Rômulo Albertini Rigueira, mediou a mesa-redonda, na qual cada participante compartilhou uma experiência profissional importante para si.

O arquiteto Gustavo Penna abriu os trabalhos apresentando o projeto do Memorial Brumadinho, que foi idealizado pelo seu escritório. O espaço em homenagem às 272 pessoas que perderam a vida no rompimento das barragens de rejeitos da Vale está localizado no distrito de Córrego do Feijão. O projeto arquitetônico foi eleito pelos familiares das vítimas em um concurso de projetos organizado pela Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum). “Um memorial como esse é importante para fixar definitivamente a dimensão de uma tragédia como essa. Porque o esquecimento seria como uma segunda morte para essas vítimas e suas famílias”, refletiu.

Jair Valera compartilhou a experiência de trabalhar como assistente de Oscar Niemeyer, arquiteto brasileiro, considerado uma das figuras-chave no desenvolvimento da arquitetura moderna. “Nos últimos 30 anos da sua vida, eu trabalhei com ele quase todos os dias”, contou. Ele recordou do último – e pouco conhecido – trabalho de Niemeyer: um pequeno restaurante localizado na Alemanha, onde o arquiteto driblou a falta de espaço construindo uma esfera com 14 metros de diâmetro, que aparenta flutuar na fachada de tijolos do edifício industrial. A obra foi inaugurada durante a pandemia de covid, razão pela qual ele não foi à sua inauguração. “A minha participação foi muito intensa, foi uma das obras do Oscar que eu mais acompanhei de perto. Para mim, ela é muito importante e é uma grande ideia do Oscar”, afirmou.

Pedro Mendes da Rocha apresentou o projeto do Museu Brasileiro da Escultura, cuja execução foi realizada pelo seu escritório. Inspirado em Stonehenge – estrutura composta por pedras que chegam a ter 5 metros de altura e a pesar quase 50 toneladas, localizada na Inglaterra –, a proposta seria fazer “uma pedra no céu”, com perspectivas que dessem a impressão de que o museu estivesse suspenso, em flutuação. Uma junção, segundo ele, de poesia, arte, engenho e técnica. “Não há divórcio entre o raciocínio artístico e o técnico”, sintetizou ao apresentar os croquis da obra. O projeto foi vencedor de um concurso promovido pela iniciativa privada.

Prof. Dr. Alfio Conti, docente do Departamento de Urbanismo da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), refletiu a respeito do impacto que obras arquitetônicas têm sobre as cidades brasileiras. “Tais obras geralmente narram histórias, resgatam memórias coletivas, evocam aspirações sociais e contribuem para a construção da identidade urbana, seja em âmbito local ou nacional”, explicou, pontuando que a arquitetura moderna brasileira se notabilizou pelo emprego inovador do concreto armado, o que possibilitou a concepção de formas arquitetônicas arrojadas e esculturais, mas que não devem ignorar o contexto social, dialogando com as necessidades dos habitantes das cidades.

Considerada por Oscar Niemeyer como sua obra favorita na Europa, o Palácio Mondadori (Palazzo Mondadori), construído entre os anos de 1970 e 1975, é a sede de um dos maiores grupos editoriais italianos, o Arnoldo Mondadori Editore. A construção, localizada nos arredores de Milão, foi encomendada pelo presidente Giorgio Mondadori diretamente a Niemeyer em 1968, após uma visita ao Brasil, e sua principal inspiração era o Palácio Itamaraty, em Brasília. O arquiteto modernista e reconhecidamente espirituoso, então, se desviou do pedido original e entregou uma construção estruturalmente audaciosa com um sistema de suspensão de concreto inovador.

Durante a sua exposição, o engenheiro Walter Incerti e o geômetra Felice Nenna, membros do departamento técnico do Grupo Mondadori, compartilharam informações sobre a análise aprofundada do projeto arquitetônico que foi desenvolvida no início da restauração do bloco de escritórios envidraçado de cinco andares, em balanço sob arcos parabólicos de concreto aparente. “A intervenção foi complexa porque, durante o dia, mais de duas mil pessoas trabalham no interior do prédio, mas o processo de restauração precisava acontecer em paralelo ao funcionamento”, contou Nenna.

Já o engenheiro Walter Incerti abordou os problemas do Palácio causados pela passagem do tempo e da presença humana no seu interior. Ele também enumerou alguns dos objetivos da restauração, que incluíam a reabilitação do concreto exposto, a limpeza de fachadas, a reforma da cobertura impermeável, a consolidação estática das lajes de cabeceira, entre outros. “O cimento é um material fantástico, como vimos nas outras apresentações, mas não é eterno. Ele nos acompanha nas estradas, ferrovias, em todo lugar, mas, da união entre aço e cimento, temos as patologias de degradação do concreto”, disse, ao citar exemplos de questões enfrentadas pela equipe de restauro como a oxidação do ferro de reforço, a expulsão da cobertura de concreto, a alteração da matriz de cimento e a carbonatação das camadas corticais – esta última, segundo Incerti, devida ao tipo de cobre e ferro utilizados nas décadas passadas, o que compromete a durabilidade das edificações.

Após as apresentações, o professor Rômulo Albertini convidou o Prof. Leonardo de Araújo Pereira, docente do Departamento de Arquitetura e curador do Congresso, para encerrá-lo. “Nesses três dias, nós tivemos a oportunidade de ouvir grandes referências com o objetivo principal de valorização desse acervo arquitetônico como patrimônio cultural. Aproximadamente 1.200 pessoas participaram presencialmente e 18 mil pessoas participaram virtualmente”, informou fazendo um apelo para que a sociedade reconheça a arquitetura como cultura. “Temos que ter esse carinho e cuidado com a nossa arquitetura porque se não for assim um dia ela acaba”, finalizou.

Catedral Cristo Rei: uma escultura de concreto armado

Composta por um complexo de 44 mil metros quadrados, a Catedral Cristo Rei, Sé Metropolitana de Belo Horizonte, começou a ser construída há 11 anos a partir do projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. O engenheiro civil Antônio Márcio Reis, especialista em estruturas e responsável pela obra apresentou um dos nove setores estruturais da construção onde será localizado o templo, o setor F.

Fazendo a ligação entre o conhecimento aprendido em sala de aula no Curso de Engenharia Civil do Instituto Politécnico da PUC Minas (Ipuc), Antônio explicou por que a Catedral Cristo Rei é considerada uma obra sui generis (única em seu gênero, em latim). “Ela é uma escultura de concreto armado de 100 metros de altura com uma praça de 16 mil metros quadrados. E vai abrigar todas as entidades da Arquidiocese de Belo Horizonte”, informou o engenheiro, que também é mestre pelo Programa de Pós-graduação stricto sensu da PUC Minas.

Antônio Márcio concentrou sua exposição nos materiais utilizados na construção da laje de piso duplo do templo, classificada por ele como a parte mais difícil do projeto e a qual, ao contrário do restante do setor, teve nove das suas vigas projetadas em concreto protendido, ou seja, com cabos de aço de alta resistência, tracionados antes ou depois da concretagem, para aumentar a resistência à tração do concreto.

As particularidades inerentes ao ineditismo da obra, devido à sua magnitude, foram abordadas na fala de Antônio Márcio, que conectou as técnicas implementadas na construção à pesquisa de doutorado em desenvolvimento pelo professor Leonardo Araújo, um dos curadores do Conarc, no Politécnico de Milão. “O cerne da tese dele é o concreto armado e a estrutura da Catedral nos propõe vários questionamentos para o futuro, seja na sua restauração ou manutenção. É por isso que procuramos o melhor traço de concreto, a melhor formulação e, para isso, estamos trabalhando com o apoio do Ipuc”, pontuou.

Fonte: https://www.pucminas.br/sala-imprensa/noticias/Paginas/Mesa-redonda-sobre-a-hist%C3%B3ria-da-arquitetura-brasileira-encerra-o-Conarc-2025.aspx

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