Uma celebração necessária
As escolas privadas, grupos educacionais e instituições celebram nessa semana as posições destacadas em rankings nacionais de classificação baseados no ENEM 2024, cujos microdados foram divulgados pelo INEP na última terça-feira (08).
Desde já, parabenizamos todas as instituições que alcançaram destaque nesses levantamentos, reconhecendo o mérito de seus estudantes, professores e gestores pela dedicação e consistência demonstradas.
Opto por sair das trocas rápidas no WhatsApp e das ligações espontâneas para trazer aqui minha contribuição — my two cents — de forma mais estruturada. Assumo, portanto, um tom propositivo, deixando as eventuais críticas, divergências e resenhas para outros fóruns mais adequados.
ENEM, Microdados e Classificações
É importante destacar que o ENEM é mais do que uma prova de conteúdos escolares — trata-se de um instrumento estatístico sofisticado baseado na Teoria de Resposta ao Item (TRI), adotada desde 2009.
Esse modelo permite estimar com precisão a proficiência dos estudantes, considerando não apenas a quantidade, mas a coerência dos acertos em relação à dificuldade das questões. Assim, candidatos com o mesmo número de acertos podem ter notas diferentes.
A TRI também garante comparabilidade entre provas de diferentes anos, assegurando a robustez dos microdados usados por instituições e pesquisadores. E, agora, mesmo sem ranking oficial desde 2015, os dados do ENEM mantêm validade científica, e a sua correta interpretação é essencial para reconhecer o esforço consistente de escolas e estudantes no processo de ensino-aprendizagem por habilidades/competências.
Assim, por trás das médias construídas, das classificações desenvolvidas por diferentes atores — , existe uma base científica sólida que sustenta a credibilidade do ENEM como instrumento avaliativo poderoso muito além de uma possibilidade de ranking, ponto final.

Por que analisei apenas as 100 primeiras escolas
A decisão de analisar apenas as 100 primeiras escolas no ranking do ENEM 2024 disponibilizado pelo site do EVOLUCIONAL teve como objetivo equilibrar rigor metodológico com acessibilidade analítica. Essa abordagem permite oferecer insights relevantes sem a complexidade de um tratamento estatístico exaustivo dos microdados completos.
Restringir o recorte para 100 escolas ajuda a reduzir vieses estatísticos presentes no top 10 — dominado por escolas muito pequenas —, além de revelar padrões regionais mais consistentes, como a força do Ceará e o protagonismo de escolas com projetos em olimpíadas e/ou outros indicadores de performance.
A amostra também evidencia a diversidade de modelos pedagógicos e portes escolares capazes de alcançar excelência, e permite validar hipóteses sobre diferentes formas de gestão (privada e federal).
Com isso, os dados analisados oferecem uma base empírica mais representativa, útil para orientar políticas públicas e estratégias institucionais baseadas em evidências, valorizando o trabalho das instituições e afastando o discurso de mera competição ou trabalho de boutique.
Distribuição por Porte das Escolas (Top 100)
Categoria de Porte | Quantidade | Percentual |
---|---|---|
Muito pequenas (até 30 alunos) | 18 escolas | 18% |
Pequenas (31-60 alunos) | 31 escolas | 31% |
Médias (61-100 alunos) | 24 escolas | 24% |
Grandes (101+ alunos) | 27 escolas | 27% |
Observação relevante: Diferentemente do top 10, onde 90% eram escolas pequenas, no top 100 há maior equilíbrio, com 27% de escolas grandes demonstrando que excelência é possível em diferentes escalas.
Era uma Vez Rankings
Entre 2005 e 2015, o Ministério da Educação (MEC) publicou oficialmente o ranking do ENEM por escola, com base nos microdados do exame. No entanto, segundo o INEP, essa prática foi suspensa após 2015 por conta de evidências científicas que apontavam distorções no uso dos resultados.
Pesquisas divulgadas pela SciELO e outras fontes acadêmicas identificaram comportamentos oportunistas em algumas instituições, como a exclusão de alunos com baixo desempenho e a concentração de recursos em grupos seletos, o que deturpava a realidade educacional e o espírito da avaliação.
Embora essas preocupações sejam válidas, é necessário encontrar um caminho do meio que permita a divulgação responsável dos dados educacionais, equilibrando transparência com o uso adequado das informações para fins pedagógicos, de reconhecimento e referência para políticas públicas.
Mercado Assume Responsabilidade
Desde então, a divulgação de rankings passou a ser feita por instituições privadas, grupos educacionais e veículos especializados, que acessam os microdados públicos por meio do SEDAP (Serviço de Acesso a Dados Protegidos) do INEP.
Esse movimento, longe de ser apenas publicitário, tem preenchido uma lacuna legítima de informação, permitindo que a sociedade continue acompanhando o desempenho das instituições em uma era sem rankings oficiais.

Afinal, para famílias e estudantes, o desempenho no ENEM é um entre muitos fatores relevantes na escolha de uma escola — como infraestrutura, metodologia pedagógica, ambiente escolar, valores institucionais e projetos formativos.
O que não podemos é deslegitimar esse esforço coletivo nem desmerecer o trabalho criterioso de quem se dedica a organizar, interpretar e apresentar esses dados de forma responsável.
Quando feito com transparência e rigor, esse movimento contribui significativamente para o fortalecimento da cultura educacional baseada em evidências.
O Valor dos Rankings Privados
Contribuições positivas:
- Democratizam o acesso a informações educacionais
- Oferecem comparações que orientam escolhas familiares
- Estimulam a competição saudável entre instituições
- Promovem uma cultura de transparência e resultado
- Complementam critérios subjetivos de avaliação escolar
Alta Performance: trajetórias comprovadas
Instituições que apresentam resultados consistentes no ENEM demonstram que alta performance não é um selo que se aplica superficialmente, como alguns modelos tentam fazer ao transformar propostas pedagógicas em produtos padronizados ou formatos de franquia.
Na realidade, a excelência educacional é fruto de uma construção de longo prazo — uma jornada que exige coerência, prática pedagógica estruturada e cultura institucional sólida, cultivadas ao longo de décadas. E por isso, mais uma vez, parabenizamos todas as instituições que se destacaram, reconhecendo o esforço contínuo e a dedicação necessária para sustentar esse nível de desempenho.
O Legado Genial do Colégio Objetivo

O Colégio Objetivo exemplifica essa trajetória de longo prazo de forma magistral. Em 1970, foi criado o Colégio Objetivo pelo educador João Carlos DiGênio, nascendo com uma missão ousada: preparar jovens para carreiras altamente competitivas, como Medicina, ITA, olimpíadas e universidades internacionais.
Com visão empreendedora e profunda sensibilidade pedagógica, Di Gênio construiu um modelo escalável de alta performance que hoje está presente em diversas regiões do Brasil — uma escola que fez escolas.
Mais de cinco décadas depois, os resultados sustentam essa trajetória. Segundo dados institucionais, estudantes do Objetivo conquistaram 15.408 medalhas e troféus em olimpíadas científicas no Brasil e no exterior, consolidando-se como referência nacional.
A presença do Objetivo Integrado em 2º lugar no ranking 2024 (731,10 pontos) confirma a solidez dessa metodologia construída ao longo de mais de cinco décadas, evidenciando a solidez pedagógica de um projeto que atravessa gerações.
Continuidade visionária sob nova liderança: Desde a partida do Prof. João Carlos Di Gênio, o legado não apenas se manteve, como foi revigorado sob a liderança da educadora Sandra Miessa Di Genio.
Atual diretora-presidente do Grupo Objetivo e reitora da UNIP, a profa. Sandra personifica uma gestão que une tradição, inovação e compromisso com a excelência.

A Jornada Objetivo 2024, realizada no Teatro da UNIP Paraíso com mais de 500 convidados, reafirmou a relevância nacional do Sistema de Ensino Objetivo, que hoje conecta centenas de escolas parceiras em todo o Brasil.
A continuidade legítima evidencia que a melhor forma de honrar o passado é garantir um futuro ainda mais promissor.
Excelência Paulista: o Colégio Etapa
Outro exemplo de consistência acadêmica é o Colégio Etapa, tradicionalmente bem posicionado em olimpíadas científicas nacionais e internacionais.
Em 2024, o Etapa III Colégio conquistou o 11º lugar nacional (711,99 pontos) e o Etapa Colégio de Valinhos obteve o 25º lugar (691,71 pontos).
Esses resultados comprovam que a excelência olímpica está fortemente associada a desempenhos elevados também em avaliações de larga escala como o ENEM — refletindo uma formação acadêmica profunda e duradoura.
O Ecossistema Cearense: Terra de Sábidos
O Ceará segue como o exemplo mais robusto de alta performance sustentada no Brasil. A Organização Educacional Farias Brito, fundada em 1935, viveu um salto de estruturação entre os anos de 2002 e 2018, implementando práticas pedagógicas voltadas à excelência nacional e internacional.
Nesse período, foram criadas turmas específicas para ITA-IME já a partir do 1º ano do ensino médio, implantado o Escritório de Internacionalização, estabelecido o Colégio de Aplicação vinculado ao Centro Universitário Farias Brito e difundido o projeto de olimpíadas científicas em todas as unidades.
O resultado é visível: 2.092 aprovações no ITA e IME, conforme divulgado pela própria instituição. Em 2024, o Farias Brito Colégio de Aplicação alcançou novamente o 1º lugar nacional no ENEM, com 755,41 pontos, marcando sua nona liderança no ranking — um feito que expressa não um acaso, mas o fruto de décadas de consistência pedagógica e gestão educacional estratégica.

Ceará (Top 100)
Particularmente notável é a ascensão do Colégio Christus, uma instituição que vem se consolidando como referência nacional em alta performance acadêmica em múltiplas frentes e chega em 3o lugar.

Fortaleza mantém 5 escolas no top 10 e expande para 7 no top 100:
- Farias Brito Colégio de Aplicação (1º lugar – 755,41 pontos)
- Christus Colégio Pré Universitário (3º lugar – 730,73 pontos)
- Ari de Sá Cavalcante – Major Facundo (4º lugar – 724,96 pontos)
- Farias Brito Colégio Pré-Vestibular Central (8º lugar – 717,82 pontos)
- Ari de Sá Cavalcante Sede Mário Mamede (9º lugar – 716,21 pontos)
- Master Colégio (18º lugar – 699,58 pontos)
- Antares Colégio Pré Vestibular (24º lugar – 693,38 pontos)
- Ari de Sá Cavalcante Sede Aldeota (40º lugar – 684,25 pontos)
- Provecto Colégio (63º lugar – 671,36 pontos)



Rio de Janeiro (Top 100)
O Rio de Janeiro demonstra forte presença no ranking com 9 escolas no top 100:
Posição | Escola | Cidade | Alunos | Média |
---|---|---|---|---|
6º | Colégio Alfa CEM Bilíngue | Rio de Janeiro | 17 | 720,41 |
12º | Colégio Naval | Angra dos Reis | 16 | 711,65 |
22º | Col de São Bento | Rio de Janeiro | 66 | 694,53 |
27º | Colégio e Curso Pensi | Rio de Janeiro | 41 | 691,45 |
32º | Sistema Elite de Ensino | Rio de Janeiro | 12 | 689,60 |
57º | Colégio Alfa CEM Bilíngue | Rio de Janeiro | 21 | 675,36 |
58º | Colégio Santo Agostinho | Rio de Janeiro | 153 | 675,02 |
72º | Colégio Cruzeiro-Centro | Rio de Janeiro | 86 | 667,36 |
76º | Colégio Cruzeiro – Jacarepaguá | Rio de Janeiro | 80 | 666,45 |
São Paulo (Top 100)
São Paulo mantém sua tradição com 11 escolas no top 100, destacando-se:
Posição | Escola | Cidade | Alunos | Média |
---|---|---|---|---|
2º | Objetivo Colégio Integrado | São Paulo | 42 | 731,10 |
11º | Etapa III Colégio | São Paulo | 42 | 711,99 |
15º | Objetivo Integrado de Mogi das Cruzes | Mogi das Cruzes | 41 | 701,23 |
25º | Etapa Colégio | Valinhos | 99 | 691,71 |
29º | Vértice Colégio Unidade II | São Paulo | 66 | 690,38 |
Outros Indicadores: Grandes Resultados
As escolas que figuram nessas listas demonstram excelência consistente em outros indicadores de performance educacionais, comprovando que sua proposta vai muito além dos resultados do ENEM.
Principais indicadores de excelência acadêmica dessas instituições:
- Aqui está a versão corrigida e aprimorada:
- Aprovações em universidades de prestígio mundial: MIT, Harvard, Princeton, Stanford, Cambridge, Oxford
- Destaque em olimpíadas científicas: Conquista de medalhas nacionais e internacionais
- Representação internacional: Estudantes selecionados para equipes brasileiras em competições mundiais
- Classificações olímpicas: Participação em olimpíadas mundiais por diversas áreas do conhecimento
- Aprovações no ITA e no IME: Ingresso nos institutos de engenharia com maior concorrência e dificuldade do país
- Projetos de Alunos com Altas Habilidades: Desenvolvimento de talentos excepcionais e programas de enriquecimento curricular
- Premiações em concursos de redação: Reconhecimento nacional em competições de escrita e argumentação
Esses resultados múltiplos evidenciam que o alto desempenho no ENEM integra um padrão mais amplo de qualidade educacional. Instituições como Farias Brito, Objetivo, Ari de Sá, Christus e Etapa não se destacam apenas no exame nacional, mas também conquistam aprovações em universidades internacionais bem posicionadas no THE*, medalhas em olimpíadas científicas e garantem representação brasileira em competições globais.
Essa diversidade de conquistas valida a solidez de seus projetos pedagógicos e confirma a amplitude de sua excelência educacional.
Conclusão
A discussão do ranking deve ser vista como celebração e oportunidade de análise, permitindo acesso aos dados para compreender projetos pedagógicos e outras dimensões de qualidade e investimentos educacionais. Da mesma forma, como pai, dificilmente alguém escolherá a escola dos filhos baseado em um único aspecto, especialmente em um mundo onde os empregos do futuro ainda nem existem.
O ecossistema educacional cearense oferece evidências de que excelência acadêmica sustentável é possível quando há alinhamento entre políticas públicas, gestão institucional e cultura de resultados baseada em evidências.
Fontes consultadas:
- INEP – Microdados do ENEM 2024
- AIO Educação – Ranking das Escolas no ENEM 2023
- SciELO – “A qualidade do ranking das escolas de ensino médio baseado no ENEM é questionável”
- Ministério da Educação – Relatórios oficiais sobre ENEM por escola
- Dados institucionais das escolas mencionadas
- Análise estatística do ranking 2024 das 10 primeiras escolas

Teixeira Júnior é Diretor Executivo de Inovação, Educação e Impacto, palestrante e especialista em soluções para educação, negócios e tecnologia. Cearense, atua no desenvolvimento de projetos de neuroaprendizagem, currículo e uso responsável da inteligência artificial, com foco em impacto comprovado na aprendizagem de redes públicas e privadas.
É, também, Embaixador Científico da Olimpíada Nacional de Inteligência Artificial e pioneiro em modelos de ensino adaptativo em larga escala no Brasil. Recebeu prêmios como o Plurall Adapta (2021), a lista As 100+ Inovadoras no Uso de TI (IT Mídia, 2021), finalista do Innovation Hack da SOMOS Educação e ACE Cortex II (2022), além de outros reconhecimentos internacionais, tais como Gates Millennium Scholars Program (2008) e o título de Outstanding Educator da University of Chicago (2017).
Classificações e Rankings: Leitura Crítica
Os rankings privados, embora úteis, apresentam limitações metodológicas importantes:
- Ausência de ajustes estatísticos: Rankings comerciais não aplicam modelagens robustas que considerem variáveis contextuais — o que pode gerar interpretações apressadas.
- Efeito do porte escolar: A forte presença de escolas muito pequenas no topo dos rankings pode indicar viés por amostra reduzida ou concentração de recursos, dificultando comparações com escolas maiores e mais inclusivas.
- Fatores não controlados: Nível socioeconômico (INSE), processos seletivos, e investimento por aluno raramente são considerados, o que compromete a equidade das comparações.
- Exceções relevantes: Casos como o do Colégio Santo Antônio (184 alunos e 10º lugar) provam que alta performance é possível em estruturas maiores, desafiando o argumento de que apenas escolas pequenas são eficazes.
Distribuição Nacional (Top 100)
Gráfico: Distribuição de Escolas por Estado
Ceará ████████████████████ 20%
São Paulo ███████████████████ 19%
Minas Gerais ████████████████ 16%
Rio de Janeiro ████████████ 12%
Piauí ███████ 7%
Distrito Federal ██████ 6%
Bahia █████ 5%
Rio Grande do Sul ████ 4%
Outros ███████████ 11%
Gráfico: Distribuição por Porte Escolar
Grandes (101+ alunos) ██████████████ 27%
Pequenas (31-60 alunos) ████████████████ 31%
Médias (61-100 alunos) ████████████ 24%
Muito pequenas (até 30) █████████ 18%
Observação relevante dos gráficos: O Ceará lidera com 20% das escolas no top 100, seguido de perto por São Paulo (19%) e Minas Gerais (16%).
A distribuição por porte mostra maior equilíbrio que o top 10, com escolas grandes representando 27% do total.