Quando o jogo invade o trabalho

Seu colaborador entra no aplicativo de apostas no intervalo do almoço. Ganha R$ 100, se empolga, volta à tarde. Perde R$ 200. À noite, tenta de novo. E de novo. No fim do mês, o salário já foi. E junto com ele, a calma, a estabilidade, a motivação.

Essa história não é exceção. Ela está se repetindo, em silêncio, em várias empresas, talvez até na sua. E o que começa como “só uma brincadeira” no celular, se transforma em um problema sério, que atravessa o portão da empresa e chega até o RH.

O vício em jogos de azar online já não está restrito a um tipo específico de colaborador. Ele está em toda parte. Não é só no estoque ou na produção. Está na área comercial, no atendimento, no setor administrativo. Está em qualquer lugar onde um trabalhador tenha um celular no bolso e uma esperança de mudar de vida com um clique. O que poucos percebem é que por trás desse vício não está a diversão. Está o desespero.

Tem colaborador que joga para tentar “dobrar o salário”, porque já está devendo o que ainda nem ganhou. Tem colaborador que aposta porque o consignado já estourou, o nome está sujo e o cartão já bloqueou. Ele não vê saída, então joga. E joga de novo. E no meio disso tudo, ele continua indo trabalhar. Mas vai diferente.

Chega mais calado. Olha o celular a cada cinco minutos. Erra pedidos simples. Entrega relatórios incompletos. Foge de responsabilidades. Fica mais agressivo ou apático. Pede adiantamento. Se atrasa. Falta. Até que um dia, sem grandes explicações, ele pede demissão. Não porque conseguiu um novo emprego. Mas porque precisa sacar o FGTS para pagar dívida de jogo.

A empresa, então, perde. De novo. Perde alguém que tinha potencial, perde produtividade, perde tempo com novas contratações, perde clima no time. E quase sempre sem saber o motivo real. Porque esse tipo de dor é silenciosa. A pessoa sente vergonha. Acredita que falhou. E por isso, esconde. E quanto mais esconde, mais se afunda.

E se você está pensando que isso é um problema pessoal, eu entendo. Mas permita-me te provocar: o que acontece quando esse problema pessoal começa a afetar diretamente o dia a dia da equipe? Quando o desempenho cai? Quando os erros aumentam? Quando os conflitos aparecem? Quando a equipe começa a desmoronar emocionalmente? A empresa paga a conta. E é uma conta cara.

A compulsão por jogos não é sobre apostas. É sobre vazio. Sobre tentativa de alívio rápido. Sobre pessoas que perderam o controle da própria vida financeira e agora estão perdendo também o equilíbrio emocional. E isso é um assunto organizacional, sim. Porque não dá para falar de cultura, de metas, de clima, sem falar do que está tirando o sono de quem carrega o crachá.

É aqui que entra a educação financeira. E não estou falando de ensinar a investir na Bolsa ou a montar uma planilha cheia de fórmulas. Estou falando de abrir espaço. Espaço para conversar sobre dinheiro sem julgamento. Para orientar sobre dívidas, sobre crédito, sobre armadilhas digitais. Para acolher, antes de punir. Para prevenir, antes de remediar.

A educação financeira precisa entrar onde o jogo já entrou. Precisa estar na fábrica, na sala do gestor, na reunião do time. Precisa fazer parte da cultura. Porque o colaborador precisa saber que existe outro caminho. Que é possível organizar a vida, recuperar o controle, sair do sufoco. E a empresa precisa entender que esse caminho pode e deve começar dentro dela.

Talvez você já tenha visto esse cenário aí. Um colaborador com rendimento caindo, cabeça baixa, celular na mão o tempo todo. Alguém que era promissor, mas parece ter se desconectado. Não ignore. Isso é mais comum do que parece. E a solução pode ser mais simples do que você imagina.

A educação financeira, bem aplicada, tem o poder de reconectar o colaborador com sua dignidade. E de reconectar a empresa com o que mais importa: pessoas saudáveis, produtivas e inteiras.

Se você também está vendo esse cenário se repetir aí na sua equipe, talvez seja a hora de agir.

E se precisar de ajuda para começar, posso te mostrar como.

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