Quando o vício em apostas começa a custar caro para a empresa e ninguém percebe

Nas pausas do expediente, seu colaborador abre o celular e confere o saldo. No horário de almoço, arrisca mais um pouco. Durante a tarde, dá um jeito de apostar “só mais uma vez”. No fim do mês, o salário desapareceu. As contas se acumularam. E junto com elas, a ansiedade, o cansaço, a culpa. O colaborador, que era atento, começa a errar. Chega atrasado. Falta. Pede adiantamento. Até o dia em que não vê saída e pede demissão só para sacar o FGTS. Essa história pode parecer exagerada. Mas, como mostra o recente levantamento do The Intercept Brasil, ela está se tornando cada vez mais comum e mais devastadora.

O crescimento descontrolado das apostas online no Brasil já deixou de ser uma “curiosidade” para virar um problema de saúde pública. Segundo o artigo, há trabalhadores que, depois de perder tudo no jogo, recorreram ao auxílio-doença porque o impacto emocional foi tão profundo que simplesmente não conseguiam mais trabalhar. São relatos de pessoas que se afundaram em dívidas, venderam o carro, pegaram empréstimo com agiota e seguiram apostando na esperança de recuperar o que perderam. Um ciclo perverso, que destrói vidas, famílias e, sim, resultados das empresas.

Porque o vício em jogos de azar não para no celular do colaborador. Ele entra na empresa todos os dias. Entra nos erros cometidos por falta de foco. Entra nas metas não batidas. No atendimento mais frio. Na equipe sobrecarregada porque alguém falta ou está presente só de corpo, não de mente. Entra na rescisão inesperada, no custo da substituição, no clima pesado que fica no ar. Entra nos números do convênio médico. E a conta, cedo ou tarde, chega para o empregador.

O grande problema é que muitos gestores e RHs ainda olham para isso como uma questão pessoal. Como se a empresa não tivesse nada a ver com isso. Só que tem. Porque quando o problema do colaborador afeta o clima, a produtividade e o caixa, já virou um problema do negócio. E não adianta achar que a solução está apenas em novas regras, mais controle ou proibições. Isso ajuda, claro. Mas o que resolve mesmo é prevenção, acolhimento e educação financeira real.

Educação financeira de verdade não é ensinar a investir. Não é passar uma planilha e dizer “organize-se”. É abrir espaço para diálogo. É falar de armadilhas como o jogo. É ensinar a planejar, a dizer não, a construir um colchão contra o desespero. É ajudar o colaborador a perceber que existe outro caminho — e que a empresa se importa com isso.

O vício em apostas já entrou. A pergunta agora é: sua empresa vai continuar fechando os olhos ou vai entrar em campo também? Quem cuida de gente, cuida disso. E quem cuida disso, cuida do próprio resultado.

COMPARTILHE:

POSTS

Mais recentes

O Ceará com Objetivo, no Topo!

Uma celebração necessária As escolas privadas, grupos educacionais e instituições celebram nessa semana as posições destacadas em rankings nacionais de classificação baseados no ENEM 2024,

Leia mais »