Chamado do Rio clama pelo exercício da justiça ecológica em evento que reuniu mais de 200 universidades e relacionou a encíclica aos rumos da COP30
O Reitor da PUC-Campinas, Prof. Dr. Germano Rigacci Júnior, participou na semana passada do Congresso das Universidades Ibero-Americanas, com o tema “Os 10 anos da Laudato Si’: Dívida Ecológica e Esperança Pública.” O evento, organizado pela Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum (RUC), é uma preparação para a COP30 e ocorreu entre os dias 20 e 24 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
O Congresso reuniu mais de 200 universidades públicas e privadas da América Latina, Caribe, Espanha, Portugal e Estados Unidos, consolidando uma ampla rede acadêmica comprometida com o legado do Papa Francisco.

“A presença da PUC-Campinas neste evento comemorativo aos 10 anos da Laudato Si’ expressa o compromisso da Instituição com as discussões globais sobre sustentabilidade e justiça socioambiental, posicionando a Universidade como parte ativa da rede internacional de instituições católicas engajadas no cuidado com a Casa Comum”, disse o Reitor, Prof. Dr. Germano Rigacci Júnior.
Chamado global por justiça climática
No sábado, último dia do evento, integrantes da RUC lançaram um chamado global por justiça climática. Foi uma oportunidade para “impactar e exigir com firmeza o cuidado da nossa Casa Comum, que inclui todos os seres humanos, incluindo os descartados e os desempregados”. O momento representou um compromisso de fortalecer o caminho iniciado em 2023 com o Papa Francisco, que “os chamou a organizar a esperança”.
Os membros da RUC destacaram que “a crise climática não é uma ameaça futura: é uma realidade presente que tem maior impacto sobre os povos e territórios mais vulneráveis”. Esta realidade obriga as universidades a agir, dada sua “responsabilidade ética, científica, pedagógica e institucional de agir”.
A Declaração do Rio fez “um apelo urgente ao exercício efetivo da justiça ecológica, social e ambiental que atenda aos clamores da Terra e dos povos mais desfavorecidos”. Simultaneamente, propôs “que os Estados, as organizações multilaterais e os atores financeiros globais promovam, no âmbito do Acordo de Paris, o equilíbrio entre a dívida pública dos países menos industrializados e a dívida ecológica dos países mais desenvolvidos”.
A RUC convidou todos os setores da sociedade a construir diversas pontes de integração, “por meio da escuta atenta e do diálogo sincero, para concordar com estratégias globais de cuidado compartilhado”. A partir desta perspectiva, comprometeram-se a “fortalecer uma educação transformadora que integre as dimensões ecológica, social, econômica, cultural e espiritual do desenvolvimento sustentável, abraçando a complexidade do presente e educando novas gerações capazes de habitar o mundo com responsabilidade, criatividade e justiça”. A declaração enfatizou que “não há justiça social sem justiça ecológica. Não há futuro sem comprometimento”.
Esses compromissos também foram assumidos pelo Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM), como afirmou seu secretário-geral, Dom Lizardo Estrada, que declarou que “não podemos mais ignorar que vivemos uma única crise, tanto climática quanto social”, que ele caracteriza como “uma questão de justiça, de vida e de fé”.
Congresso
O Congresso teve como objetivos centrais promover o diálogo entre academia, setor público e setor privado para desenhar estratégias coordenadas de ação sobre fé e inovação, em sintonia com a agenda da COP30. Além disso, buscou fomentar redes de cooperação interuniversitária em torno da sustentabilidade e da mudança climática, impulsionar compromissos das universidades ibero-americanas com a transição justa por meio de modelos de desenvolvimento integral sustentáveis capazes de enfrentar a crise ecológica socioambiental, articular recomendações estratégicas para a COP30 a partir da comunidade acadêmica e refletir sobre o impacto da encíclica Laudato Si’ no ensino superior, na pesquisa e nas políticas públicas.
Além das instituições de ensino superior, participaram representantes de governos regionais, organismos internacionais e multilaterais, setor privado e organizações da sociedade civil dedicadas ao cuidado ambiental. O governo brasileiro esteve representado pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
Mensagem papal
Em mensagem especialmente gravada para a abertura do Congresso, o Papa Leão XIV abençoou os participantes e os encorajou a seguirem firmes na construção de pontes de esperança durante este ano jubilar. O Pontífice expressou aos reitores das universidades seu desejo de “encorajá-los nessa missão que assumiram: serem construtores de pontes de integração entre as Américas e com a Península Ibérica, trabalhando por uma justiça ecológica, social e ambiental”.
Metodologia sinodal
O Congresso adotou o método sinodal, promovendo participação ativa, escuta recíproca e discernimento coletivo ao longo de quatro dias. Cada jornada foi inspirada nos “quatro sonhos” do Papa Francisco apresentados na Exortação Apostólica “Querida Amazônia”:
Sonho Comunitário – “Construindo pontes: coordenação continental de atividades educativas dirigidas a promover o desenvolvimento sustentável, contrastando a mudança climática garantidas por um fundo mundial.”
Sonho Cultural – “O Cuidado da Casa Comum: biodiversidade e tecnologia.”
Sonho Social – “Justiça Ecológica Integral: o diálogo social como a melhor política para o respeito da dignidade humana.”
Sonho Ecológico – “Dívida Pública e Ecológica: possibilidades de remissão mediante uma nova arquitetura financeira.”
Encontro de reitores
Paralelamente ao Congresso, foi realizado o II Encontro Sinodal de Reitores Universitários para o Cuidado da Casa Comum, com o apoio da Pontifícia Comissão para a América Latina (PCAL). O encontro discutiu a relação entre dívida ecológica, esperança pública e o papel das universidades na construção de um futuro sustentável.
O evento também prestou uma homenagem ao Papa Francisco, reconhecido por sua contribuição fundamental ao diálogo sobre sustentabilidade e justiça social. Durante as discussões, foi destacada a importância da comunicação com os jovens como prioridade, enfatizando a necessidade de ouvir e integrar as vozes da juventude, que trazem um novo olhar sobre os desafios contemporâneos.
O encontro representou um momento de articulação estratégica da rede para fortalecer o impacto das universidades nas questões fundamentais relacionadas ao futuro do planeta.