Por Gabriel Ramos de Padua
O Brasil bateu mais um recorde indesejado. Segundo dados recentes do SPC Brasil e do Serasa, mais de 70 milhões de brasileiros estão inadimplentes. Isso representa praticamente metade da população adulta com dívidas em atraso, nome negativado e, na maioria dos casos, sem perspectiva de solução definitiva.
A situação é preocupante, mas não é nova. O problema é que, mesmo com esforços pontuais como o programa “Desenrola Brasil”, os números continuam subindo. Renegociações aliviam momentaneamente, mas não mudam o comportamento de quem está no vermelho.
É como enxugar gelo. A dívida sai por uma porta e volta pela janela.
A bomba do crédito fácil e a ilusão do alívio
Nos últimos anos, o crédito se tornou cada vez mais acessível. Aplicativos oferecem empréstimos com poucos cliques. Bancos oferecem consignado com garantia do FGTS. Cartões de crédito com limite elevado viraram padrão.
O resultado? Pessoas gastando acima do que ganham, iludidas pela falsa sensação de que o crédito amplia o poder de compra.
Mas o que o crédito faz, na maioria das vezes, é antecipar um dinheiro que a pessoa ainda não tem e comprometer a renda que ela ainda vai receber. E quando o custo de vida sobe, como tem subido, sobra ainda menos.
É aí que a armadilha se fecha: o colaborador usa o crédito para manter o padrão, cobre um buraco com outro, até que a dívida se torna impagável. Entra no rotativo, pega um consignado, parcela a fatura… e quando vê, restam apenas alguns reais no contracheque no final do mês.
A empresa continua pagando salário, mas o dinheiro não chega de fato ao colaborador. E isso tem impacto direto na produtividade, no foco, na saúde emocional e na permanência no emprego.
Mesmo com o Desenrola, o Brasil continua se endividando
O programa “Desenrola Brasil”, criado para renegociar dívidas com descontos, já alcançou milhões de pessoas. Muitos conseguiram limpar o nome temporariamente.
Mas os dados mostram que, poucos meses após a renegociação, boa parte dos mesmos consumidores volta a se endividar. Segundo levantamentos do mercado financeiro, mais de 84% das pessoas que atrasaram contas uma vez voltam a fazê-lo depois de um curto período.
Ou seja: o problema não está só na dívida. Está no comportamento.
E comportamento não muda com desconto. Muda com educação. Muda com consciência.
Enquanto isso não for prioridade nas famílias, nas empresas e nas políticas públicas, o país continuará girando em círculos. A inadimplência sobe, o crédito aperta, o salário desaparece, a produtividade cai e a economia trava.
Quem paga essa conta?
Todos nós.
O trabalhador, que vive pressionado.
A empresa, que perde rendimento e talentos.
O governo, que vê a economia estagnar.
“Desenrola Brasil” ajuda, mas não resolve sozinho.
O programa oferece condições de renegociação, alívio temporário, mas:
- Não ensina como não voltar a se endividar;
- Não muda o comportamento do tomador de crédito — juros altos, consumo por impulso e falta de controle continuam ativos;
- Devolve o controle, mas não dá controle, e é por isso que a inadimplência voltou a bater recordes.
Ou seja: sem educação, o saldo só oscila e o problema permanece.
Em um país com quase metade dos adultos negativados, simplesmente “desenrolar” dívidas não é suficiente. É preciso educar. A educação financeira é a ponte entre o problema e a solução para a população, para as empresas e para o Estado.
Se você quer transformar esse entendimento em ação dentro da sua empresa, construindo programas que realmente transformem pessoas, clima, produtividade e resultados, eu posso ajudar a desenhar um programa de educação financeira que realmente funcione.
Gabriel Ramos de Padua