Por Yvie Nunes
Você chega ao trabalho, cumprimenta colegas, participa de reuniões, entrega resultados. Mas, no fundo, sente que está deslocado. Como se houvesse um código invisível que todos parecem entender — menos você. Essa sensação de ser “o outro” no ambiente de trabalho não é apenas desconfortável: é exaustiva, corrosiva, desumanizadora. É a dor da falta de pertencimento.
O que é pertencer?
Pertencer não é apenas estar fisicamente presente. É sentir-se visto, ouvido e, sobretudo, valorizado. É saber que suas ideias contam, que sua forma de ser não precisa ser mascarada para se adequar. Quando isso não acontece, o espaço que deveria ser de crescimento vira um território hostil.
Os efeitos invisíveis
A falta de pertencimento não costuma aparecer nos indicadores de desempenho. Mas ela corrói por dentro. O colaborador que não se sente parte tende a se calar, a duvidar de si, a se isolar. O resultado? Menos inovação, mais afastamentos, burnout, ansiedade, rotatividade. Pessoas começam a adoecer por se sentirem constantemente “fora do lugar”.
Causas comuns
- Ambientes que valorizam performance acima de pessoas
- Falta de diversidade e inclusão reais
- Comunicação vertical e autoritária
- Microagressões disfarçadas de piadas
- Cultura de competição em vez de colaboração
A máscara da adaptação
Muitos tentam se adaptar. Riem de piadas que não acham graça, evitam expressar opiniões, mudam seu jeito de vestir, falar, até de pensar. Mas essa adaptação, quando forçada, cobra um preço alto: o esvaziamento da própria identidade.
O que pode ser feito?
- Escuta ativa: criar espaços onde as pessoas possam falar sem medo de retaliação.
- Cultura de acolhimento: valorizar trajetórias diferentes, identidades múltiplas.
- Formações sobre empatia, diversidade e inteligência emocional
- Lideranças humanizadas: gestores que enxergam pessoas, não só cargos.
Pertencimento é afeto institucionalizado
Em última instância, fazer alguém sentir que pertence é um ato de reconhecimento profundo. É institucionalizar o afeto, sem cair em romantizações. É entender que pessoas que se sentem seguras produzem mais, se engajam mais e permanecem por escolha — não por medo.
Conclusão
A falta de pertencimento no ambiente de trabalho não é um detalhe. É uma ferida que, quando ignorada, afasta talentos, silencia potências e adoece trajetórias. Inverter esse cenário é um compromisso ético. Porque ninguém deve trabalhar num lugar onde sente que precisa deixar partes de si na porta, todos os dias.